As cidades e os olhos

•fevereiro 28, 2009 • 2 Comentários

Os antigos construíram Valdrada à beira de um lago

com casas repletas de varandas sobrepostas e com ruas

suspensas sobre a água desembocando em parapeitos balaustrados.

Deste modo, o viajante ao chegar depara-se com duas cidades:

uma perpendicular sobre o lago e a outra refletida de cabeça para baixo.

Nada existe e nada acontece na primeira Valdrada sem que se repita na segunda,

porque a cidade foi construída de tal modo que cada um de seus pontos fosse

refletido por seu espelho, e a Valdrada na água contém não somente todas as

acanaladuras e relevos das fachadas que se elevam sobre o lago mas também

o interior das salas com os tetos e os pavimentos, a perspectiva dos corredores,

os espelhos dos armários.  Os habitantes de Valdrada sabem que todos os seus atos

são simultaneamente aquele ato e a sua imagem especular, que possui a especial

dignidade das imagens, e essa consciência impede-os de abandonar-se ao acaso e ao

esquecimento mesmo que por um único instante. Quando os amantes com os corpos

nus rolam pele contra pele à procura da posição mais prazerosa ou quando os

assassinos enfiam a faca nas veias escuras do pescoço e quanto mais a lâmina desliza

entre os tendões mais os sangue escorre, o que importa não é tanto o acasamento ou

o degolamento mas o acasalamento e o degolamento de suas imagens límpidas e frias

no espelho.    Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas, á vezes anula.

Nem tudo o que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho.

As duas cidades gêmeas não são iguais, porque nada do que acontece em Valdrada

é simétrico: para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondente

invertido ponto por ponto no espelho. As duas Valdradas

vivem uma para a outra, olhando-se nos olhos

continuamente, mas sem se amar.

Italo Calvino

in: As cidades invisíveis

A vida em Movimento

•fevereiro 17, 2009 • 4 Comentários

Atingir a maturidade do coração é um caminho a ser construído caminhando. Esse ensinamento, nos mostram os mestres do zen na arte da cerimônia do chá, na arte do arqueiro, na arte da pintura. Aí alcançamos a verdadeira espontaneidade.

Nesses tempos de desconfiança, de apegos materiais, de produção, contenção e consumo, estamos voltados para nossos umbigos, para um eu único e imutável e não nos percebemos de que somos outro também e de que nossa composição é de muitos, “sou o outro e o outro sou eu”.

Na unidade dos opostos nos encontramos. Natureza e Cultura então, é algo único, não oposições separadas.

Se aprendêssemos mais a observar como os animais vivem, por exemplo, perceberíamos o quanto nos fragmentamos em partes, como se cada parte de nós, não fosse nós.

Como podemos cuidar da plástica de um corpo perfeito quando o espírito que somos está repartido, esmigalhado? Possivelmente se nos víssemos num todo não precisaríamos da plástica.

Como olhar para nossas dores e perceber as dores do outro? Como ver o Outro como a mim mesmo???

Esse caminho nos propõe uma vida em Movimento, Percepção de teia, de rede, complexa, plexo com plexo, conexões, eu no outro, o outro em mim.

Sentir-se como parte do todo…

Hello world!

•fevereiro 17, 2009 • 2 Comentários

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